A equipe do Centro Clima/UFRJ acaba de publicar o capítulo dedicado ao Brasil no relatório internacional Deep Decarbonization Pathways (DDP) 2025, documento que revisa os avanços e desafios de 21 países desde a assinatura do Acordo de Paris, em 2015. O capítulo traz uma análise aprofundada das trajetórias brasileiras de mitigação, abordando energia, uso da terra, desmatamento, governança e perspectivas de descarbonização até 2050.
Avanços e desafios do Brasil na década pós Acordo de Paris
O relatório aponta que, embora o Brasil tenha avançado significativamente em energia renovável com quase 90% da eletricidade de fontes limpas, o país ainda enfrenta gargalos estruturais, sobretudo relacionados ao desmatamento, à degradação florestal e à lentidão na expansão da infraestrutura para energias alternativas.
Entre os destaques positivos, o capítulo cita a rápida expansão da energia eólica e solar, que atingiu 90 GW, ante 60 GW há apenas dois anos. No entanto, limitações na rede de transmissão e mudanças regulatórias recentes reduziram investimentos, resultando em 11% de potencial perdido ou atrasado em 2024.
O pesquisador Emilio La Rovere, professor do Centro Clima/UFRJ, lembra que desafios importantes se concentram fora das usinas: falta de linhas de transmissão para escoar energia do Nordeste e ausência de leilões de equipamentos para armazenamento, essenciais para a confiabilidade do sistema.
Desmatamento e uso da terra seguem como ponto crítico
Apesar da queda do desmatamento na Amazônia, o relatório alerta para a alta degradação florestal e para o avanço da perda de vegetação nativa em outras regiões do país. Ainda persistem entraves como grilagem, ocupações ilegais e insuficiência na implementação do Código Florestal.
La Rovere enfatiza que o país já demonstrou capacidade de reverter esse cenário entre 2004 e 2012, o Brasil promoveu uma das maiores reduções de emissões da história recente. Para recuperar essa trajetória, o pesquisador aponta prioridades como:
- Destinar os 50 milhões de hectares de florestas públicas hoje vulneráveis;
- Combater ocupações ilegais e retirar o gado de áreas protegidas;
- Implementar regras mais rígidas e rastreáveis para a cadeia da pecuária, com certificação e controle do metano, seguindo padrões internacionais.
Dependência de fontes fósseis ainda preocupa
O capítulo chama atenção para pressões por expansão da produção e uso de petróleo e térmicas a gás, inclusive próximas a ambientes sensíveis. O relatório compara esse movimento a “financiar um carro caro e beberrão por 30 anos”: uma decisão que cria dependência e reduz incentivos a transições mais baratas e limpas.
Cenário global: avanços, gargalos e nova governança climática
O relatório DDP mostra que muitos dos 21 países estudados:
- Adotaram metas de longo prazo;
- Criaram novas estruturas de governança para descarbonização;
- Ampliaram incentivos econômicos para renováveis;
- Implementaram políticas industriais, energéticas e tecnológicas estratégicas.
Ainda assim, gargalos persistem, como:
- Insuficiência de redes de transmissão;
- Avanço lento em transportes e edificações;
- Alta dependência de carvão e petróleo;
- Pressões sobre florestas e agropecuária;
- Falta de financiamento adequado no Sul Global.
La Rovere destaca que, no Brasil, o Plano de Transformação Ecológica ajuda a reorganizar políticas e financiamento para modernizar setores produtivos, atrair investimentos verdes e gerar empregos.
Uma década decisiva
Henri Waisman, diretor da iniciativa junto ao IDDRI, afirma:
“A lição final é simples: precisamos avaliar, aprender e elevar a ambição de forma contínua traduzindo tudo em ações efetivas para enfrentar a crise do clima nesta década decisiva.”
O capítulo brasileiro produzido pelo Centro Clima/UFRJ reforça o papel essencial da ciência na orientação de políticas públicas, economia, infraestrutura e planejamento de longo prazo, contribuindo para que o país avance de forma consistente rumo a uma trajetória de neutralidade climática.
Relatório completo do DDP 2025 acesse AQUI
Capítulo sobre o Brasil (PDF) acesse AQUI
Fonte: oeco
