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21 11 CentroClima Noticia O lançamento virtual da Revista Ineana v.9 n.2, que aconteceu em 17/12, teve como destaque o artigo Perspectivas da Adaptação à Mudança do Clima do Estado do Rio de Janeiro que, tendo como introdução um referencial teórico sobre aquecimento global e a consequente mudança do clima, apresenta uma síntese dos trabalhos realizados no âmbito do Plano Estadual de Adaptação às Mudanças Climáticas, realizado pela parceria Centro Clima e GAEA sob coordenação técnica do Professor Emilio Lèbre La Rovere, resultado da iniciativa da então Secretaria de Estado do Ambiente (SEA) e técnicos do Instituto Estadual do Ambiente (INEA). A Ineana é um periódico interdisciplinar do Inea, cujo objetivo é disseminar e debater questões ambientais relativas ao Estado do Rio de Janeiro e possui a classificação B5 na área de Ciências Ambientais e Engenharias I do sistema Qualis da CAPES.

Além do artigo em destaque, a nova edição da Ineana traz outros quatro trabalhos sobre temas relacionados à gestão ambiental pública, disponíveis AQUI.

Clique AQUI para ter acesso ao Plano.

Confira a Revista Ineana v.09 nº02.

09 12 CentroClima Noticia MudançaClimaticaAs alterações nas temperaturas e correntes marinhas, as ameaças ambientais e a produção de gases de efeito estufa têm preocupado a comunidade científica. Para entender as razões do que é chamado de “desregulação do clima”, a 15° edição do jornal Marquinho publicou trechos da entrevista feita com o coordenador do Centro de Estudos Integrados sobre Meio Ambiente e Mudança Climática (Centro Clima) e do Laboratório Interdisciplinar de Meio Ambiente e Clima, Emílio Lèbre La Rovere, que também é professor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ).

Agora, o Colab apresenta na íntegra a entrevista em que o pesquisador explica de que modo as mudanças climáticas se manifestam, os seus impactos sociais e o que precisamos fazer para evitar ou minimizar esses efeitos. Para ele, cobrar das autoridades proteção do meio ambiente e respeito às leis ambientais é fundamental. Durante a entrevista, o especialista alerta sobre a ameaça global para a humanidade e aborda o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU, que, no ano de 2021, divulgou seu sexto relatório indicando o aumento de 1,07°C na temperatura média da Terra desde as medições com termômetros em 1850. O IPCC é uma revisão feita por pesquisadores de tudo que a ciência avançou nos últimos anos.

Muito se fala em aquecimento global. Mas por que, principalmente nas regiões Sul e Sudeste, há registros de períodos de inverno mais frios?

Emílio La Rovere – O aquecimento da atmosfera do planeta causa a mudança do clima do planeta. Mudança estrutural, não é só uma variação conjuntural, né? A gente sabe que esse inverno deste ano, não é igual ao inverno do ano passado. Isso é uma variabilidade natural do clima. Mas quando a gente fala em mudança, inclusive os franceses falam em desregulação do clima, o que estamos querendo dizer é o seguinte: Esses gases de efeito estufa, que as atividades estão emitindo e que sobem para a alta atmosfera, se acumulam lá e aumentam o teor inicial de concentração desses gases, por já existir uma concentração de equilíbrio que é muito benéfica e viabilizou formas mais complexas de vida no planeta. […] Então o efeito estufa é uma coisa boa, mas o aumento artificial-antropogênico causado pelas atividades humanas é danoso. Agora essa questão do clima, o que é o clima? O clima não é só a temperatura, é a chuva também, são as correntes marinhas… Então, quando você muda o clima, algumas regiões do planeta podem se tornar mais quentes ou mais frias. Às vezes as pessoas não têm essa ideia. Tem até um filme, uma ficção chamada “O dia depois de amanhã” que aparece os Estados Unidos, “New York”, totalmente gelada e coberta de neve, devido ao problema do aquecimento global, que não é muito de acordo com as teorias dos cientistas, mas certamente não Nova Iorque, não América do Norte. Mas, se você for pegar o norte da Europa, e se você olhar em um plano esférico achatado, você vai para o oeste da Europa, você vai bater aonde? Estados Unidos e Canadá. O Canadá tem um clima que a piada é: “O inverno e o mês de agosto, com neve para todo lado exceto no mês de agosto; como se o inverno fosse o ano todo.” E na Europa do norte não é assim. O clima é muito mais brando, muito mais suave, não é tão frio quanto no Canadá. Você sabe por quê? Porque tem uma corrente marinha que sai das costas do México e dos Estados Unidos, a corrente do Golfo do México, que é uma corrente de água quente que sai de lá e sobe para o norte da Europa. Na Grã Bretanha, na Noruega, etc. E essa corrente marinha aquece aquela região.

Agora, em consequência da desregulação do clima, uma das consequências do aquecimento global é afetar a magnitude e intensidade das correntes marinhas. Então, em particular, essa corrente pode enfraquecer e, enfraquecendo, não vai esquentar a Escandinávia deixando essa região com o clima ainda mais frio. Então, há também na América do Sul uma tendência que, primeiro falando da chuva, as temperaturas também têm que ser vistas, mas a chuva também é importante […] A América do Sul banha as costas do Peru e já tinha um fenômeno independente da mudança de clima que se chama El Niño e que, de vez em quando, enfraquecia. Com a mudança do clima, isso é agravado. Quando ela enfraquece, isso muda a circulação do ar, a umidade…Tá tudo interligado, né? Aliás, foi um dos temas lá em Nova Iorque, em setembro de 2015, quando ocorreu o Acordo de Paris. Então é assim, a corrente marinha diminuindo, o que acontece? Fica mais seca a parte da América do Norte e mais chuvosa a parte da América do Sul. Se torna ainda mais semiárida, as regiões semiáridas e mais chuvosas as regiões sul. Isso é um risco para cidades com assentamentos precários. O clima pode mudar o padrão de chuva e também você tem, por exemplo, o fato que está mais calor e a temperatura da água está maior no oceano, contribui para a formação de furacões com mais frequência (que também são chamados de eventos extremos climáticos). E na América do Norte pode ocorrer mais neve, mais frio.

A maioria das regiões do planeta se manifesta com o aumento das temperaturas médias, […] Então é por isso que em algumas regiões acontecem verões mais fortes e invernos mais rigorosos. O aquecimento global é a causa que muda o clima, e a mudança do clima tem um padrão que pode ser perfeitamente associado a verões mais quentes e invernos mais frios. Já está havendo invernos mais frios, devido à mudança global do clima.

Sabemos que em outros países também há regiões com registros de calor intenso. Por que esse desequilíbrio climático ocorre?

Pela mesma razão que eu também já expliquei anteriormente. O clima muito quente [indica] mais episódios de ondas de calor [que] são muito graves para a saúde dos idosos. Vários idosos infelizmente morreram dentro de casa, nas ondas de calor, sem que ninguém percebesse, e viviam solitários, né? E infelizmente ondas de calor são uma das consequências que a gente já está observando, não é apenas o cenário dos cientistas. A gente já consegue verificar o que está ocorrendo em função dessa mudança climática. Esse desequilíbrio ocorre justamente pelo acúmulo de gases na alta atmosfera, chamados de “gases do efeito estufa”. O principal deles é o dióxido de carbono (CO2), em segundo lugar de importância em relação a causar o aquecimento é o metano (CH4), temos também o óxido nitroso (N2O). O mais importante deles é o CO2, e a maior fonte de CO2 no mundo é a queima de combustíveis fósseis: carvão mineral e seus derivados, petróleo e seus derivados e o gás natural.

Então esse desequilíbrio ocorre justamente pela emissão desses gases?

Esses gases, quando se acumulam na atmosfera, retêm uma parte do calor que a terra naquele ano devolveu para o espaço. O que ocorre: o sol aquece a terra, todo corpo que fica quente começa a irradiar calor. Então a terra depois de ficar quente também começa a lançar calor para o espaço. Só que a terra quando faz isso, ela não se aquece tanto quanto o sol. Então essa onda de calor que ela lança, é como se ela fosse uma onda mais lenta. A frequência da onda não é tão alta. O sol e o calor se propagam através de ondas, né? A gente fala “frequência modulada” no rádio, na televisão… E são ondas modulares. Só que a onda que a Terra emite é mais lenta, e a molécula desses gases que são chamados de efeito estufa, por causa disso, absorve esse calor. O calor fica na atmosfera e outra parte vai para o espaço. Mas aí, ao ficar uma parte do calor na atmosfera, que é uma camada fininha de cem quilômetros em torno da Terra, ao ficar ali, esquenta a superfície e vai aumentando a temperatura média. E esses gases não conseguem reter o calor que vem do sol, porque é uma onda que viaja numa velocidade muito mais rápida. Usando uma comparação: é um goleiro que recebe uma bola chutada lá do meio de campo, chega devagarinho na mão dele e ele pega. Um atacante bate um pênalti com grande violência, a bola passa tão rápido que ele nem vê, então essa é a luz solar. E isso é que causa o problema. A gente conta com uma ajudinha do oceano, que absorve de dez a 15 por cento desse CO2 que o homem manda para o espaço, mas, cada vez que ele faz isso, ele fica mais ácido e ele se transforma em uma “lata de lixo” da sociedade. Só que é uma lata de lixo que muitas vezes não vemos em nossas ruas e que vai se tornando cada vez menor. Ou seja, nós temos que resolver o problema diminuindo a emissão de gases para a alta atmosfera. Enquanto a gente estiver mandando, eles vão estar se concentrando e vão aumentar a temperatura. Para a temperatura parar de crescer, a gente não pode mandar para a atmosfera nada além do que os oceanos conseguem absorver. É necessário para resolver o problema uma revolução da forma como a sociedade industrial de consumo usa a energia nas nossas residências, nos veículos de transporte, nos processos industriais. Praticamente em todas as nossas atividades usamos a energia, não só a elétrica, mas na forma de combustível. Precisamos usar fontes de energias renováveis e que não sejam combustíveis fósseis. Temos a energia do sol, do vento, de uma planta que cresceu. A segunda causa do efeito estufa é o desmatamento, e, no caso do Brasil, é a fonte até mais importante, porque nós temos bastante energia renovável, bastante hidrelétricas, energia solar, energia eólica, temos a cana de açúcar, o biodiesel, a soja… Nós temos uma matriz energética que já é bastante renovável. Cerca de 40 a 45 por cento da nossa energia é renovável. Mas a gente peca no desmatamento, que é muito alto na Amazônia, na Mata Atlântica e no Cerrado. Então nós temos esse problema que está cada vez pior e que cresce gradualmente de forma invisível. Ele é lento e é difícil a gente combater e perceber. Os cientistas estão falando, desde a criação desse painel que eu mencionei, o IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança Climática), que foi criado em 1988, e agora já estamos no sexto relatório que é uma revisão de tudo que a ciência avançou nos últimos seis ou sete anos, feito por cientistas mais experientes.

Diante da atual situação de desequilíbrio climático, quais serão as consequências a curto e longo prazo para o meio ambiente, principalmente aqui no Brasil?

Então nós temos essas consequências que mencionei, né? De aumento da temperatura, algumas regiões mais secas e outras mais chuvosas, e, no caso do Brasil, também temos episódios como o do El Niño mais frequentes e fortes, que afetam a agricultura. O semiárido, essa região do Nordeste que já é quase árida, quase desértica, vai ficar em condições ainda piores. Uma parte dele vai ficar árida e uma região em volta vai sofrer secas mais fortes em uma área maior. O Nordeste tem uma população muito grande, quase 30 milhões de pessoas vivendo no semiárido… Há milhões de agricultores pequenos que já sofrem cronicamente com a seca causada inicialmente pela devastação da Mata Atlântica e agora isso vai ser mais grave. Um dos pontos de maior preocupação para o Brasil são os pequenos agricultores na área nordestina e no Norte de Minas Gerais, em regiões como Araçuaí… Outro ponto crítico é a questão das favelas nas nossas cidades. As encostas e as nossas chuvas de verão, que já ocorriam pela variabilidade natural do clima, ficarão cada vez mais fortes durante essa estação e causarão cada vez mais danos para quem mora no “barraco pendurado no morro” ou quem mora em uma área de baixada, que é alagada. Então, as nossas periferias urbanas, que têm tanta pobreza, ficarão muito vulneráveis a essa mudança do clima. Também a Amazônia sofre com a mudança do clima, mas eu diria que a maior ameaça à Amazônia não é a mudança do clima e sim o desmatamento. O clima nesse caso não ameaça a Amazônia quanto o desmatamento, por isso que nós temos que relativizar. Nem tudo é culpa do clima, mas para você ter o desenvolvimento da sociedade de uma forma sustentável, para você acabar com a pobreza, para você ter uma qualidade de vida maior é preciso um clima minimamente razoável. Se não tiver um clima razoável, se não tiver uma base física, dá para “mudar para outro planeta.” Precisamos do clima para outras coisas também. Ele é o meio.

Essas são as principais consequências, mas aqui no Brasil tem outras também! Por exemplo, na saúde. Quando você cria regiões mais quentes, os mosquitos transmissores de todas essas doenças, como dengue, zika, febre chikungunya, malária, febre amarela, também existirão – eles vivem em clima quente. Antes, a partir de uma certa altura numa serra, você já não encontrava esse mosquito. Mas se agora essa região começa a ter temperatura maior, o mosquito vai viver em áreas cada vez maiores e ele é vetor de propagação de doenças. Então pode ter impactos na saúde. Além do impacto das ondas de calor e a elevação do nível do mar.

O mar, pouco a pouco, gradativamente, vai subindo. Onde você não tem uma falésia, uma rocha, tendo ali uma encosta mais plana, o mar começa a adentrar e passa a atingir a infraestrutura. Boa parte da população brasileira está na beira do mar ou em uma faixa próxima. Então podemos ter perdas econômicas imensas. Esses impactos todos são muito severos no Brasil. Dado também que nós não temos o nível socioeconômico e de educação da maioria da população, a vulnerabilidade socioeconômica agrava a vulnerabilidade educacional. Então populações que estão expostas a uma perturbação do clima, não têm como se adaptarem e reagirem a isso. Não sabem como se comportar. O Brasil é um dos países em que vai sofrer – já está sofrendo – com a mudança do clima.

Durante muitos anos foi debatido a respeito das possíveis consequências dessas mudanças climáticas, o senhor acha que ainda há uma solução para esse fenômeno?

O que seria uma solução para o fenômeno? No início, nem os cientistas sabiam qual seria o nível seguro. Até que ponto, nós poderíamos deixar esses gases se acumularem na atmosfera, deixar a média da temperatura crescer sem ser perigoso. Demorou alguns anos para se conseguir responder essa pergunta. Chegou-se à conclusão no mundo científico, que o dano causado pela mudança do clima não é assim: aumenta 1° C tenho um dano, aumenta 2°C tenho o dobro. É como se fosse uma linha só reta até dois graus, mas a partir de dois graus, quando você chega a 4°C, é muito pior que o dobro de 2°C. Ou seja, a partir de 2° C, você começa a atingir limites perigosos. Você pode começar a liberar, por exemplo, se derreter lá na Sibéria, a camada de uma vegetação chamada Tundra. Se o calor derrete uma pequena camada de gelo que está ali em cima, embaixo tem um monte de gás metano preso, assim como o gás metano preso lá, no fundo dos oceanos. Se você derreter essa camadinha, esse metano vai para a atmosfera muito rapidamente, e o metano tem uma capacidade muito grande de reter o calor da Terra. Então, começa a ter um efeito bola de neve, vai pequenininha e depois vai descendo a ladeira e vai ficar gigante.

Os cientistas consideram que 2°C é um limite aceitável. E, isso foi [considerado] no Rio [de Janeiro] em 1992, as Nações Unidas fizeram uma reunião para cuidar do meio ambiente e do desenvolvimento. Assinaram vários tratados no Rio, para proteger a biodiversidade foi um e outro para proteger o clima. 195 países aderiram e assinaram e estão comprometidos em tentar proteger o clima. Interesse de todo mundo. Tem que ser todos em conjunto, nem os EUA podem dizer “vou resolver o problema”, mesmo que eles cortem todas as emissões no país, se a China, o Brasil, a Índia e a Europa não cortarem, não adianta, continuará a subir a temperatura. Então tem que haver um esforço conjunto, internacional. Quer dizer, é como se desembarcasse uma força de marcianos aqui que entendeu, pela primeira vez, que a humanidade tem realmente uma ameaça global. Todo mundo está no mesmo barco. Alguns viajam de primeira classe, outros estão na terceira. Todo mundo vai se dar mal, mas o pobre vai se dar mal primeiro. Todo mundo sabe, não é só no clima não. Vai ver a qualidade do ar, do lixo, onde tem problema ambiental é onde tem pobre morando. Não podemos esquecer esse aspecto social.

Então, eu estou querendo dizer o seguinte, nós temos que conter antes de 2°C. A convenção do clima em 2009, ela faz todo ano uma reunião. Sempre vão chefes de estado, presidentes, ministros, etc. Em 2009 foi uma dessa. Temos que ter o objetivo de não deixar subir a temperatura mais do que 2°C. No acordo de Paris, outra reunião importante em 2015,viu-se que 2°C já era perigoso, é um limite. Se possível, controlar em 1,5°C. Entretanto, esse relatório divulgado semana passada [09/08/2021], diz que até 1850, o nível médio da temperatura não havia mudado, a concentração de gases no efeito estufa era a mesma. E, quando começou a Revolução Industrial, a máquina a vapor começou a demandar carvão mineral para alimentar as caldeiras dos trens, das indústrias, o homem lançou CO² na atmosfera. De 1850 até hoje, a temperatura na média aumentou 1,07°C. A solução para chegar a 1,5°C seria quase impossível. Para 2°C [é possível], se nós realizarmos muitos esforços.

Agora nós temos que levantar sempre alto a bandeira de 1,5°C, porque se não for assim, se será 2°C. Se você começa a dizer 1°C está bom, aí os governos, as indústrias, vão chegar a 3°C. Aí é muito ruim. A solução ideal seria limitar 1,5°C. Trocar todo o sistema de energia afeta muitos interesses econômicos, muitas empresas, muitos países.

O problema é que muitas vezes o dinheiro não consegue comprar tempo. Nós temos uma inércia, o carro elétrico que agora está começando, desde o século XIX a gente já sabe como fazer o carro elétrico, mas como vai trocar esses postos de gasolina por postos de bateria, no mundo todo? Isso não é da noite pro dia. Então tem todo um período para fazer o que se chama, a transição energética, transição dessas fontes fósseis de energia (carvão mineral, petróleo e gás natural) para fontes renováveis. Isso vai levar algumas décadas. O acordo de Paris é que, até 2050, a gente consiga fazer emissões zero no resultado líquido. Se nós conseguirmos fazer isso até 2050, temos boas chances de ficar no limite de 2°C. Então é viável, tem solução, mas requer uma mobilização global, e nem sempre isso acontece por razões políticas. É um problema que, infelizmente, vai afetar as novas gerações.

Quais são as principais atividade humanas que causam as mudanças climáticas no Brasil e principalmente na região Sudeste?

No mundo é principalmente a queima de combustíveis fósseis e no Brasil é o desmatamento, mas nós também temos que parar de queimar combustíveis fósseis. E nós temos plena condição. O Brasil é o país que possui a melhor condição de fazer essa transição energética de forma mais rápida, mais barata para ser líder dessa transição e se beneficiar com isso. Porque no capitalismo, quando uma empresa tem que fazer uma despesa para proteger o meio ambiente, ela chia, porque aquilo é um custo que ela tem que administrar e tirar do lucro dela. Mas repare que se o concorrente dela tem um problema ainda maior, gasta ainda mais e está numa situação pior do que a dela, aí ela acha bom. “É ruim para mim, mas é pior para o concorrente? Maravilha!”. Ou seja, não é porque as empresas são “ecologistas”, que elas vão mudar. É para sobreviver na selva da competição econômica. Certo? E para isso que os governos colocam impostos, para dizer que tudo que esses gases emitem para a sociedade não é bom e devem custar mais caro. Tudo que não emite tem que custar mais barato. O preço da gasolina é 20% o custo dela mesmo e 80% é imposto. O governo pode taxar mais a gasolina e diminuir o preço do álcool para que os motoristas mudem para ele. O órgão do corpo humano mais sensível qual é? O bolso!

Tem tanto imposto em cigarro e bebidas alcoólicas, então vamos colocar impostos também naquilo que faz mal ao planeta! O planeta se adapta. O problema somos nós.

Eu não coloco o meio ambiente no centro de tudo, pois o centro de tudo é a pessoa humana. Agora, para a pessoa humana poder ter o seu pleno desabrochar, vivendo e tendo qualidade de vida, a gente precisa que o clima esteja razoável.

Em âmbito global, o que pode ser feito? E em âmbito local?

A gente pode passar para veículos elétricos, desde que a eletricidade venha de fontes renováveis. Não adianta fazer como a China está fazendo. Está trocando para carro elétrico, mas isso é pra resolver a poluição do ar em Pequim e nas cidades da costa leste chinesa. Mas a maior parte da energia elétrica da China é carvão mineral, então para fazer aquela energia elétrica, você está emitindo muito gás no efeito estufa. Vão ter que fazer algo como o Brasil faz: eletricidade a partir de hidrelétricas, a partir de geradores eólicos, a partir de usinas queimando cascos de madeira plantada. E também usando fontes renováveis como o álcool da biomassa, o biodiesel, etc. Isso pode ser feito no mundo todo. Temos que plantar árvores para caramba, parar de cortar as que têm. Parar com o desmatamento ilegal, que mais de 90% do desmatamento do Brasil é ilegal. A gente sabe como fazer isso. Entre 2004 e 2010, o Brasil cortou 80% da taxa anual – a quantidade que cada ano a gente cortava na Amazônia. Passou a cortar cinco vezes menos, e agora subiu de novo. A gente sabe como fiscalizar o pecuarista, o agricultor. Novamente vem o bolso para nos ajudar. Ninguém planta e ninguém tem pasto para botar gado se não tiver crédito. O Banco do Brasil dá crédito rural. Precisa primeiro de antecipar a despesa, depois quando o agricultor colhe a colheita, que ele irá pagar o empréstimo no banco. Aí em Minas é assim o tempo todo. Banco [cooperativas] de crédito rural de Minas Gerais. Mineiros viraram banqueiros por causa disso. Por causa das atividades agrícolas. Se você só dá crédito para o agricultor que tiver em dia com o código florestal, com a licença ambiental, ele [que desmata] está “morto”. Então você tem instrumentos poderosos de políticas públicas para direcionar a ação do agente econômico que quer desmatar e evitar aquele desmate. E a gente já fez isso com sucesso entre 2004 e 2010, não tem desculpa, a gente sabe. Então, a primeira coisa é parar o desmatamento e estimular uma floresta plantada de espécies nativas, para recompor, restaurar a cobertura vegetal original. Também pode plantar eucalipto, como tem muito em Minas, para fazer energia, fazer produtos que são usados para a indústria. Desde que plante e não corte.

De que forma cada cidadão poderia contribuir?

Cobrando dos governos. Uma parte exercendo nosso dever, nossa cidadania, nos posicionarmos, exigirmos, votarmos nos candidatos. Façamos pressão para que os governos atuem nessa direção de proteger o meio ambiente do crime. Colocar pressão sobre as indústrias, o setor produtivo, as empresas. Como? Associação de consumidores, boicote a produtos que sejam nocivos ao clima. As empresas morrem de medo disso. O consumidor organizado tem um poder extraordinário. As associações de consumidores, nosso papel como consumidor, vai na prateleira, vê qual é a pegada de carbono deste produto, assim como a gente vê agora a origem, se ele é vegano ou não, se é biológico ou não, tem um monte de informações. Começar a cobrar que estejam neutros em carbonos. Alguns já são, encontra um azeite aqui, um vinho biológico ali, etc. E em terceiro lugar, a conduta pela atitude, pelo modo de vida pessoal. Não vamos colocar isso em primeiro lugar, não é só isso, isso vem. Você tem que ser coerente e viver de acordo com aquilo que você acredita.

Vimos previsão de que, até o fim do século XXI, haverá um aumento de temperatura média no planeta entre 1,4ºC e 5,8ºC. Qual o impacto disso? Quais podem ser as consequências para o Brasil?

Eu até sou um dos coautores de um dos relatórios do IPCC que falou sobre isso. Esse relatório foi feito nos anos 2000, de lá para cá, a convenção do clima avançou, e, com o Acordo de Paris, muitos países já se comprometeram com o corte voluntário de emissões. Antes teve o Protocolo de Kyoto, que estipulou limites para os países mais ricos, e agora as metas são voluntárias. No Acordo de Paris, se os países desrespeitarem as metas já estabelecidas em 2015, o aquecimento já não chegará a 5,8°C, chegará a algo entre 3°C e 4°C. Isso ainda é perigoso demais. Por isso que o acordo de Paris prevê o mecanismo de que esses objetivos sejam revistos a cada cinco anos, para que eles se tornem cada vez mais rigorosos, e os cortes de emissões sejam maiores. Cortando a emissão, diminui a concentração de gases que ficará lá em cima e a temperatura para de crescer num nível mais razoável. Estamos nessa linha, o impacto de 3°C a 4°C ainda pode ser muito perigoso, até nem sabemos muito bem, porque tem esses pontos como eu disse: derreter a camada de gelo e derreter as calotas polares, outro impacto que eu não mencionei, e as geleiras.

Se derreter as calotas polares, o mar começa a subir cada vez mais rápido. O mar está subindo devido ao aumento da temperatura, e, quando fica mais quente, dilata. Além disso, se o gelo derrete, isso faz com que o volume e a água subam também pela geleira polar. Efeitos como esse são de aumento em ritmo de bola de neve. Nós não sabemos quais são esses pontos críticos, até onde apoiamos. Sabemos que depois dos 2°C [de aumento da temperatura média da Terra], há um grande ponto de interrogação e de preocupação. Então, se os compromissos forem cumpridos, chegaremos a estabilizar a temperatura em um nível que pode ser entre 3°C e 4°C, e não está razoável ainda. As consequências são essas que falamos para o planeta na totalidade e para o Brasil, aquelas que nós já falamos nas perguntas anteriores.

Fonte: Colab PUC Minas

24 11 CentroClima Brasil2030 NotíciaA Iniciativa Clima e Desenvolvimento: Visões para o Brasil 2030 é liderada pelo Instituto Clima e Sociedade, Centro Clima da UFRJ e Instituto Talanoa, tencionando a criação de um futuro com baixo carbono. No dia 15 de outubro, lançaram o documento "Clima e Desenvolvimento: visões para o Brasil 2030 - Documento de Cenários e Políticas Climáticas".

O objetivo do relatório é a elaboração e planejamento de estratégias para diminuir a emissão de gases de efeito estufa. O Prof. Emilio La Rovere atuou como um dos Coordenadores Gerais do documento "Clima e Desenvolvimento: Visões para o Brasil 2030".

Através de estudos, entende-se que existem três áreas críticas que devem ser corrigidas: precificação de carbono, controle do desmatamento e construção de uma economia de restauração florestal. A expectativa é que o investimento nessas áreas diminua em até 82% as emissões até 2030.

Na COP 26 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2021), serão expostos os caminhos viáveis para alcançar-se os objetivos relatados pela iniciativa. O Brazil Climate Action Hub - Hub criado durante a COP25 - disponibilizará novamente o espaço para debates internacionais abertos e plurais sobre questões climáticas.

Confira AQUI o Sumário Executivo da Iniciativa.

O estudo foi publicado nas matérias:

29 11 CentroClima Noticia AmbientalA Conferência Internacional debateu mudanças climáticas – seus riscos para as cidades e sua população e trouxe propostas de intervenção em qualidade de vida para as cidades com base no conceito de saúde única. A Conferência ocorreu entre 16 e 19 de novembro, mas ainda pode ser acompanhada pelo Canal do IOC no YouTube ou pelo Instagram.

O Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), o Centro Clima / COPPE - Instituto de Pesquisa e Pós-graduação de Engenharia/ UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro e o Núcleo Latino-Americano da Urban Climate Change Research Network organizaram a “1ª Conferência Latino-Americana de Saúde e Educação Ambiental: das mudanças climáticas à qualidade de vida nas cidades”.

Dentre os objetivos alcançados com êxito na Conferência destaca-se:

  • Fortalecimento de redes de pesquisa e ensino, para debate sobre políticas públicas com propostas efetivas de intervenção para melhoria da qualidade ambiental, geração de produtos educativos relevantes e uma melhor integração da sociedade com o ambiente acadêmico.
  • Fomento ao diálogo de diferentes saberes, estimulando a cooperação entre especialistas em diversos campos relevantes para as cidades, tais como a ciência do clima, inovações tecnológicas, poluição, saneamento, justiça ambiental, saúde, e formação de cidadania planetária, que serão desenvolvidos dentro do conceito de One Health.
  • Apresentação de soluções para tornar as cidades mais saudáveis e resilientes às mudanças climáticas, apresentando resultados a serem divulgados no Terceiro Relatório da Avaliação de Pesquisa em Mudança do Clima e Cidades (ARC3-3), que está sendo preparado pela Urban Climate Change Research Network (UCCRN) e será publicado pela Cambridge University.

A Conferência contou com uma Comissão Científica que avaliou e premiou os melhores trabalhos apresentados.

As palestras, mesas redondas, debates, e trabalhos apresentados ao longo da Conferência estão disponíveis em Canal do IOC no YouTube ou pelo Instagram.

Clique AQUI e confira a Apresentação com os principais resultados da Conferência.

Segue o sumário de algumas reflexões debatidas ao longo da Conferência:

    • Ações públicas são relevantes, mas sociedade civil e setor privado também precisam participar para mitigar os riscos climáticos. Para tal é relevante a integração dos saberes na busca de soluções e a educação com base no conceito de saúde única para ampliar a percepção e fomentar mudanças de comportamento entre os diferentes atores sociais.
    • A Urban Climate Change Research Network (UCCRN) procura apoiar governo, academia, sociedade civil e organizações não governamentais com conhecimento científico o entendimento do risco climático para as cidades e propor soluções de adaptação e mitigação do risco climático, apontando dificuldades e facilidades de ordem tecnológica, financeira, ambiental, social, de governança, dentre outras. Ela tem como mote: cientistas precisam desenvolver soluções para ajudar cidades, através da cooperação entre vários saberes e diferentes cidades/regiões da Terra.
    • Desafios para transformar as cidades: financiamento, comunicação, planejamento, comando e controle e empoderamento das comunidades locais.
      No debate sobre saúde ambiental nas cidades, percebeu-se que o crescimento desordenado das cidades e a falta de planejamento integrado podem interferir diretamente na qualidade do ambiente aquático e terrestre urbano. A poluição dos ambientes urbanos está diretamente associada a doenças e ao aumento de resistência de microrganismos.
    • As pesquisas que associem clima influenciando o vírus do COVID ao clima ainda não são cientificamente conclusivas, pois ainda é cedo (menos de 2 anos de estudo) para conclusões científicas críveis que associem clima influenciando o vírus do COVID ao clima, mas é relevante manter os estudos neste tema. Estudo na cidade do Rio de Janeiro apresentou que a população mais vulnerável, que vive em situação de pobreza e sujeita ao adensamento populacional é mais suscetível ao vírus. “Não existe saúde em ambiente sem qualidade ambiental” (ex: saneamento). O Monitoramento em recursos hídricos contribuiu para identificar casos de SARS. COVID19 em Niterói, em trabalho conjunto com gestores de saúde local a adoção de medidas de prevenção. Exemplo da relevância da Interação entre ciência e ação de gestão local.
    • Mitigar os impactos de desastres naturais perpassa por inovações tecnológicas, estratégias planejamento e implementação de ações para prevenção de impactos e de comunicação e educação. CEMADEN tem um programa de ensino nas escolas que populariza o “aprender para prevenir” e procura transformar as escolas em sustentáveis e resilientes considerando a realidade local.
    • A manutenção e recuperação da natureza ser solução para mitigar desastres naturais. Floresta urbana mitiga risco climático (efeito estufa) e é base da vida. Natureza presta serviços ecossistêmicos.
    • As mudanças climáticas alteram a qualidade de vida dos ecossistemas. Há avanços tecnológicos. Entretanto, medidas de adaptação são muitas vezes difíceis e inviáveis técnica e economicamente. Adicionalmente. É necessário fazer a avaliação dos impactos da tecnologia em outras áreas como por exemplo a da saúde. A prevenção do risco climático pode ter um custo socioecológico e econômico menor do que a remediação. Exemplificando, evitar ações de desmatamento tem um custo econômico líquido menor do que recuperar perdas sociais, ambientais e econômicas por ele impactadas.

    • Para solucionar o novo Desafio Global da Crise da Mudança do Clima e da Perda da Biodiversidade e de serviços dos ecossistemas, faz-se necessário:

  • Repensar e mudar hábitos de produção e de consumo.
  • Estabelecer planejamento urbano integrado, que conte com participação de partes interessadas locais e que busque reduzir a emissão de GEE além de transformar áreas vulneráveis em áreas adaptadas a mudança do clima. Este é um processo dinâmico, que não prescinde de leis e comando para a gestão do território, bem como, do desenvolvimento tecnológico, o respeito a natureza e a educação integrada com base no conceito do ONEHEALTH (saúde única).

 

Confira AQUI outros detalhes da Conferência.

24 11 CentroClima Event NotíciaCom o objetivo de reforçar a colaboração coletiva na redução das emissões de gases de efeito estufa, o side event do projeto ACT-DDP “Assessing company transition with deep decarbonization pathways in Brazil and Mexico – lessons learned from the ACT-DDP Project” aconteceu no dia 9 de novembro de 2021, no International Development Finance Club (IDFC), pavilhão na COP26.

O projeto ACT-DDP é a união de duas iniciativas: a primeira, ACT (Assessing Low Carbon Transition), que aplica metodologias contra o desempenho setorial, e a segunda, DDP (Deep Decarbonization Pathways), que desenvolve metodologias analíticas para construir trajetórias nacionais de longo prazo consistentes. O propósito do projeto é alcançar a meta global firmada no Acordo de Paris, focando nos setores com destaque econômico, que mais emitem gases de efeito estufa no Brasil e no México. Para isso, projeta-se o acompanhamento dessas empresas e suas metas quanto à transição para uma economia de baixo carbono, promovendo maior comunicação entre os governos e a iniciativa privada.

Saiba mais sobre o Projeto ACT-DDP AQUI.

O evento abordou o compromisso que deve ser assumido pelos governos e pela iniciativa privada para manter o aquecimento global abaixo do limite de +2ºC. O Acordo de Paris promulgou a dinâmica da comunhão entre as empresas privadas e os atores estatais para alcançar o objetivo, mas destacou a falta de conexão entre esses dois agentes.

Representando o Centro Clima, o Professor Emílio La Rovere apresentou a palestra “Developing sectoral deep decarbonization pathways in Brazil and Mexico: challenges and opportunities” no evento.

Além disso, vale destacar as apresentações da Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG), sobre o setor de energia elétrica no Brasil. A CEMIG participou da palestra intitulada “The role of companies in sectoral decarbonisation – Assessing company strategies”.

Confira a programação do evento AQUI.

Veja a apresentação exibida pelo Prof. Emilio (Centro Clima) AQUI.

Confira o vídeo do evento:

Pesquisadores - Projeto Imagine

Emilio Lèbre La Rovere

Michele Cotta

Michele Cotta holds a degree in Forest Engineering, Master's Degree in Forestry Sc

Lisandra Gomes Mateus

Researcher at the Centro Clima (COPPE/UFRJ) and PhD student at the Energy Planning

Pedro Ninô de Carvalho

Economist, PhD candidate at the Federal University of Rio de Janeiro and the École

Carolina Burle Schmidt Dubeux, D.Sc.

PhD in Energy and Environmental Planning, senior researcher at Centro Clima/COPPE/

Daniel Schmitz, D.Sc.

PhD in Transport Engineering at the Federal University of Rio de Janeiro (Coppe-UF

George Goes, D.Sc.

PhD in Transport Engineering and postdoctoral researcher at the Federal University

Erika Carvalho Nogueira

Environmental Engineer (UFRJ), with a sandwich undergraduate degree from the Austr

Bruna Guimarães

Works as a researcher at the Center for Integrated Studies on Climate Change and t

William Wills, D.Sc.

Senior consultant at CentroClima and director at the Brazilian Climate Center, boa

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